Texto por Stephanie Souza
Se tem uma banda que podemos eleger pela introdução do emo no imaginário popular estadunidense dos anos 90, essa banda seria o The Get Up Kids.
Ao questionarmos as origens do emo como movimento musical, a conclusão possui diversas variáveis (nenhuma 100% correta): Rites of Spring, Sunny Day Real Estate, Cap’n Jazz, Jimmy Eat World, Jawbreaker, Quicksand, Death Cab For Cutie, entre outras.
Mas, sem dúvidas, o grupo que pavimentou o caminho da ascensão do emo ao mainstream, se tornando uma virada de chave para uma parte da música alternativa dos anos 90/2000, foi o The Get Up Kids. E fizeram isso com maestria ao misturar a crueza do emo à um som mais limpo e comercial, voltado para rádios e programas de tv, numa época em que a internet estava apenas em sua fase introdutória.
Ao contrário de bandas que, mais tarde, alcançaram o auge estratosférico do emo (inclusive no Brasil), como o Fall Out Boy e o My Chemical Romance, o The Get Up Kids permaneceu no lado b da coisa, sem se curvar à pressão comercial das grandes gravadoras, se transformando num clássico intocável apenas àqueles que se relacionaram de forma um pouco mais profunda com a cena.
Something to Write Home About, lançado em 1999, é o segundo álbum da banda, e se tornou um grande divisor de águas, não apenas para a cena, mas também para o gênero como um todo. É daqueles álbuns que diferentes bandas tentaram replicar de tempos em tempos (mas nenhuma conseguiu com a mesma sensibilidade e fluidez que o TGUK criou).
A faixa de abertura, “Holiday” já nos conta tudo que o grupo se propõe a transmitir. Guitarras explosivas, sintetizadores (grande diferencial entre as bandas da época) e vocais emotivos e agudos de Matt Pryor, que se declara de forma bastante sensitiva aos amores perdidos: “Say goodnight, mean goodbye / I know you think my life would stop when you’re away / I’m lucky if we’re speaking on holidays” (“Dizer boa noite, quer dizer adeus / Eu sei que você pensa que minha vida pararia quando você estiver longe / Talvez eu possa te ver em feriados”, em tradução livre).
“Action & Action”, um dos dois singles do álbum, destaca a importância do tecladista James Dewees, que apresenta uma linha de sintetizador muito bem executada, em contraste com os vocais de Pryor e a bateria de Ryan Pope, que chega para amarrar tudo. A letra reflete não apenas uma banda em sua fase de maturação, borbulhando de uma certa… angústia “adolescente”, mas também a transição da música do final dos anos 90: a ascensão das boybands e do nu metal e a incógnita da cena alternativa. O ponto aqui é a desilusão, a ânsia, a inquietude: “If the world is ending, then we toast to it” (Se o mundo está acabando / Então brindemos a isso”, em tradução livre).
“Ten Minutes”, single principal do álbum, soa muito familiar, flerta bastante com o pop-punk com seus riffs de guitarra pontuais, em contraponto com o tom mais triste de sua letra. Nela se consegue perceber o impacto do TGUK em bandas de pop punk que vieram depois, como o Taking Back Sunday.
É como se o grupo tivesse uma receita ultrassecreta para esse álbum: a simplicidade implacável e funcional de “I’m a Loner Dottie, A Rebel” e “My Apology”, a atemporalidade de “Long Goodnight” e “Out of Reach” e a ingenuidade de “Valentine” transmitem toda a vivacidade e nostalgia que compõem o apelo de Something to Write Home About.
“I’ll Catch You” encerra o álbum com uma intro de piano lenta e suave, que se intensifica progressivamente e explode de forma muito bem orquestrada. É o ponto final perfeito para um clássico carregado de sentimentos intensos de confusão mental juvenil.
Não se pode negar o espaço que o TGUK criou para o emo/pop punk moderno. Something to Write Home About criou um molde para todas as bandas que vieram a seguir, sendo pioneiros na transição do emo entre cultura underground para fenômeno popular. Viciante, sincero e estimulante, é fácil de gostar e de entender como garantiram seu espaço no hall da fama do emo.
A banda volta ao Brasil no próximo fim de semana, com duas apresentações: uma no Rio de Janeiro, no Circo Voador, dia 01/08, e uma em São Paulo, pelo Oxigênio Fest, que acontece nos dias 03 e 04 de agosto – a banda se apresenta no domingo, dia 04. A turnê vem para celebrar os 25 anos do clássico que leva o título desse texto. Essa será a segunda apresentação do grupo no país.
Via: Wiki Metal