Graveyard é uma banda sueca que surgiu em 2006, na cidade de Gotemburgo, e atualmente sua formação conta com Joakim Nilsson, Jonatan Ramm, Truls Mörck e Oskar Bergenheim.
A banda mescla hard rock clássico com blues e rock psicodélico. Também exibem riffs marcantes, vocais intensos e uma atmosfera vintage.
Em sua trajetória, a banda lançou o álbum de estreia homônimo, em 2007, que firmou sua reputação. Em seguida, em 2011, com o disco Hisingen Blues liderou as paradas suecas e consolidou o grupo no rock contemporâneo. Posteriormente, em 2016, a banda entrou em hiato, mas retornou em 2017, com Oskar Bergenheim na bateria.
Finalmente, em 2018, o Graveyard lançou o álbum Peace e, em 2023, o disco denominado somente 6, que reflete uma atmosfera mais introspectiva e sombria.
Graveyard no Brasil
A banda vem ao Brasil para três apresentações: Rio de Janeiro, no dia 14 de março, São Paulo, no dia 15 e por último em Belo Horizonte, no dia 16 de março de 2025. Os ingressos estão disponíveis no site da Xaninho Discos.
Além disso, aproveitando a segunda vez da banda sueca no país, o Wikimetal conversou com o baixista da banda, Truls Mörck sobre inspirações, histórias marcantes, pós pandemia e também sobre os shows no Brasil. O simpático baixista também contou, com bom humor, algumas situações inusitadas de sua carreira no Graveyard.
Confira a entrevista na íntegra:
Wikimetal: O Graveyard está na ativa há quase duas décadas. Como você avalia a trajetória desde a formação do grupo em 2006?
Truls Mörck: Certa vez, li uma entrevista do Graveyard, de uma época em que eu ainda não estava na banda, e o entrevistador perguntou se havia alguma música que definisse o grupo. Acho que foi o antigo baterista quem respondeu “River Deep – Mountain High”. Na época, pensei que aquilo fazia muito sentido — e ainda acho que faz.
Tem sido uma jornada cheia de altos e baixos, mas é incrível pensar em todo esse tempo e perceber que continuamos aqui, fazendo o que amamos. Sinto muito orgulho disso.
As influências da banda
WM: O que motivou vocês a criarem o Graveyard? Como surgiu a ideia de misturar hard rock, blues e folk music?
TM: Bom, acho que tivemos sorte por estarmos em Gotemburgo, na Suécia, uma cidade relativamente pequena, onde desde cedo encontramos pessoas que gostavam do mesmo estilo de música.
Era aquele som do final dos anos 60 e começo dos anos 70, rock and roll. Estávamos sempre tocando juntos, formando e pulando de uma banda para outra. Um álbum muito importante na formação do Graveyard foi Then Play On, do Fleetwood Mac.
Claro que também nos influenciamos muito por bandas maiores, como Black Sabbath, Led Zeppelin e Pentagram. Mas algo que nos conectou foi o Fleetwood Mac e aquele blues meio psicodélico que eles faziam. O timbre da guitarra sempre foi fundamental para nós. Não usamos tanta distorção, mas conseguimos explorar bastante o som.
A pandemia e o lockdown
WM: Sobre o novo álbum, denominado somente 6, percebemos um som mais introspectivo, com mais influência do blues. O que inspirou essa mudança? Foi algo no estilo de vida?
TM: Bom… não exatamente. Na verdade, o álbum anterior foi seguido por uma turnê muito intensa, quase dois anos sem parar. Nosso último show dessa turnê foi nos Estados Unidos, com o Opeth, no início de 2020. Terminamos a turnê no começo de março. Até então, vivíamos em constante movimento. Voltamos para casa e, poucos dias depois, veio o lockdown.
Toda a nossa agenda foi cancelada de repente, e nos vimos sem ter o que fazer. Foi uma mudança brusca, de uma vida de viagens e shows para um silêncio total, isolados no interior. Isso nos levou a refletir bastante. Muitos sentimentos e pensamentos que estavam guardados vieram à tona. Quando se está sempre em movimento, não se tem tempo para pensar em muitas coisas, mas, no silêncio, tudo aparece.
Então, faz sentido dizer que o álbum é mais introspectivo, porque foi justamente o que fizemos: olhar para dentro.
Mas tivemos sorte. Na Suécia, onde moramos, a pandemia não nos afetou de forma tão drástica quanto em outros lugares, especialmente por vivermos em uma região com pouca gente.
Ainda assim, esse silêncio forçado acabou influenciando o disco, e acho que dá para perceber isso no resultado final.
WM: O período pós-pandemia foi muito difícil, como foi o processo de composição e gravação nesse contexto de tantas restrições e precauções?
TM: Tivemos bastante sorte, pois não fomos muito afetados pessoalmente. Mas havia toda aquela incerteza, não sabíamos quando as turnês voltariam a acontecer. Será que faria sentido continuar? Será que tocaremos ao vivo de novo?
Outra coisa que atrapalhou foram os constantes cancelamentos no estúdio. Alguém espirrava ou ficava meio doente, e pronto! “Todo mundo para casa, sessão cancelada.” Às vezes era porque um filho estava doente, ou alguém da família. Então, o processo foi bem longo.
As performances ao vivo
WM: E sobre os shows ao vivo? O Graveyard é conhecido por suas performances intensas. Como vocês preparam o setlist para cada show ou festival?
TM: Depende muito do tempo que temos no palco. Se for um festival, às vezes só temos 50 minutos, então fazemos um set mais direto. Se for um show nosso, de 70 ou 90 minutos, dá para construir uma jornada diferente para o público.
Geralmente, começamos com bastante energia e, depois, diminuímos o ritmo em algum momento para criar uma atmosfera mais introspectiva. Então, lá pelo final, voltamos a acelerar para encerrar com força. Gosto de pensar que os shows têm de ter essa dinâmica.
Quando estamos em turnê, o setlist pode mudar de um dia para o outro, para sentirmos o que funciona melhor ou apenas por diversão. Algumas músicas são certeiras e nunca deixamos de tocar, mas, no geral, varia.
WM: Falando em redes sociais, vocês gostam de interagir com os fãs?
TM: Eu cuido do Instagram do Graveyard, então estou sempre por lá, postando e respondendo. No passado, não éramos tão ativos, mas hoje em dia acho mais divertido. Gosto de conversar com o pessoal que nos manda mensagens.
Inteligência Artificial e arte na música
WM: O vídeo da música “Breathe In Breathe Out” é incrível! Pode-se perceber que vocês dão muita importância para a estética, tanto nos vídeos quanto nas capas dos álbuns. Quem criou a arte do novo disco? E qual a sua opinião sobre bandas que usam Inteligência Artificial para suas criações?
TM: Para mim, arte visual é muito importante. Sou o tipo de pessoa que compra um disco pela capa. Quanto à IA… acho complicado. Pessoalmente, não gosto. Acho que precisamos apoiar artistas reais. Se eles não forem pagos pelo trabalho, não vão conseguir continuar criando.
Claro que algumas criações feitas por IA são interessantes, mas, no geral, não me agradam. Para mim, vira um problema quando é usado só para economizar dinheiro, sem nenhum processo criativo humano por trás. Prefiro muito mais contratar ilustradores e designers de verdade. É uma forma de manter tudo girando: nós pagamos o trabalho deles, e eles seguem produzindo arte legal.
Sobre quem fez nossa capa mais recente, foi um sueco chamado Castor Castore. Ele começou fazendo um videoclipe para a música “Please Don’t” e gostamos tanto que o chamamos para a capa do álbum também. Já trabalhamos com diferentes artistas ao longo dos anos, como o artista sueco Ulf Lundin, que fez a capa do álbum Peace, de 2018. E também, mais recentemente, um artista chamado Max, que faz filmagens aéreas e trabalhou nos nossos últimos clipes, inclusive no single de “Breathe In Breathe Out”, do último álbum 6.
Ídolos e descontração
WM: A música do Graveyard combina elementos do passado com um toque contemporâneo. Se vocês pudessem convidar qualquer lenda do blues ou do rock para uma jam session, quem seria? E qual música tocariam juntos?
TM: Para mim, um dos músicos mais incríveis é o Mitch Mitchell, do Jimi Hendrix Experience. Outro nome seria o Peter Green, do Fleetwood Mac, que acho que combina demais com a nossa banda.
Se fosse para escolher uma música, seria “The Green Manalishi”, do Peter Green com o Fleetwood Mac. Para mim, ela resume muito o que buscamos em termos de som.
WM: Depois de tantos anos na estrada, qual foi o momento mais surreal ou inesperado que vocês viveram?
TM: Temos muitas histórias, mas uma que me veio à mente foi na turnê com o Opeth nos Estados Unidos. Tocamos em lugares icônicos, mas pequenos, cheios de história. O Apollo Theater, em Nova York, foi surreal, mas o mais louco mesmo foi o Ryman Auditorium, em Nashville.
É o lugar conhecido como “a igreja-mãe da música country”, onde começou o ‘Grand Ole Opry’. É lindo, cheio de tradição. Penso que se uma banda de hard rock de Gotemburgo conseguiu tocar lá, onde Hank Williams se apresentou… foi algo que realmente nunca imaginei.
Shows no Brasil
WM: Vocês vão voltar ao Brasil em março de 2025. O que os fãs podem esperar desses shows?
TM: Podem esperar todos os clássicos que vocês conhecem. Nós tentamos levar o som um pouco além do que se ouve no álbum, mantendo a essência, mas com mais intensidade ao vivo.
Nós reagimos muito à energia do público, então não sejam tímidos! Se quiserem ouvir algo específico, avisem no Instagram ou gritem lá no show mesmo — quem sabe a gente toca.
Estamos numa fase excelente da banda, acabamos de sair de uma turnê em novembro que foi incrível. Estamos muito empolgados para voltar ao palco. E, sendo bem sincero, estamos loucos para fugir do frio! Aqui na Suécia está congelante, então estamos felizes em ir para um lugar mais quente.
WM: Na última vez que vocês vieram ao Brasil, em 2019, teve alguma lembrança que marcou muito a passagem da banda por aqui?
TM: Com certeza! Lembro de alguns fãs que criaram seus próprios produtos da banda, como bandanas pretas com o nome Graveyard em dourado. Achei demais!
Mas a história mais maluca rolou no nosso último show, no Rio de Janeiro. A apresentação coincidiu com o episódio final de Game of Thrones, que passou no mesmo horário do show. Então, o pessoal do local resolveu colocar uma tela gigante na frente do palco e todo mundo assistiu ao episódio ali mesmo.
Depois que terminou, começaram a desmontar a tela e finalmente subimos para tocar. Foi algo muito inusitado, mas acabou sendo incrível. Uma lembrança bem forte de quando estivemos aí.
WM: Sobre a turnê na América Latina, vocês também vão tocar com os canadenses do Danko Jones. Como surgiu essa parceria? E o que você acha da música deles?
TM: Já tocamos juntos em alguns festivais, mas a ideia dessa turnê veio do nosso agente. Recebemos um e-mail sugerindo “Graveyard e Danko Jones na América Latina, topam?” e achamos ótimo.
Acho que nossas bandas se complementam. Somos diferentes, mas existe uma conexão musical. Eles estão na ativa há mais tempo que a gente, respeito muito isso. Lembro de ouvir seus primeiros álbuns quando era mais novo. Então, estamos bem empolgados.
WM: Para finalizar, tem alguma mensagem que você gostaria de deixar para os fãs brasileiros?
TM: Quero dizer que somos muito gratos pelo carinho que recebemos no Brasil e na América Latina. É incrível saber que podemos viajar para tão longe e encontrar fãs apaixonados pela nossa música.
Estamos animados para voltar e tocar para vocês de novo. Estamos em um ótimo momento como banda, cheios de energia, e garanto que os shows serão incríveis. Vocês não vão se arrepender!
WM: Muito obrigada pela entrevista!
TM: Muito obrigado a vocês!
Confira no Youtube da Nuclear Blast Records, o videoclipe oficial da música “Twice”, lançado em 2023;
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Via: WikiMetal