Machine Girl esteve no Brasil pela primeira vez no último dia 26 para um show único em São Paulo, no Hangar 110. A banda que mescla o hardcore à música eletrônica surgiu em 2012 inspirada por uma colagem de referências culturais móveis e amplas, originadas das culturas digitais.
Conversamos com Matthew Stephenson sobre a passagem da banda pelo Brasil, seu interesse pelos DJs brasileiros e os temas que inspiraram o mais recente álbum MG Ultra.
Confira na íntegra:
Wikimetal: Olá, Matt. Prazer em conhecê-lo. É uma pena vocês estarem aqui nesse clima chuvoso.
Matt Stephenson: Ah, mas é bacana. É muito legal estar aqui e eu amo como essa cidade é verde comparada a Nova Iorque, especificamente.
WM: Isso é tão estranho de ouvir, porque São Paulo é uma das cidades mais cinzas que temos no Brasil.
MS: Consigo ver isso também, mas nós estávamos caminhando e passamos por um parque perto do hotel. Eu sou de Nova Iorque, então ver algo que parece remotamente uma floresta ou uma selva ou qualquer coisa, mesmo que seja só em um quarteirão, é algo muito empolgante para mim, então é legal.
WM: Entendo a sensação! Essa é a sua primeira vez no Brasil. Você tem algum contato com seus fãs brasileiros ou conhece algo sobre sua base de fãs aqui no Brasil?
MS: Sendo totalmente honesto, o que nós vemos há muito tempo é o meme do “Come to Brazil”. Então eu estou ciente de que as pessoas pedem que a gente venha tocar aqui há um tempo. Fique surpreso quando percebi que só íamos para São Paulo, porque senti que talvez ir para o Rio ou algo assim fosse a cidade maior. Estou muito empolgado por estar aqui e estou animado para ver o que os fãs farão amanhã. Porque ir para o outro lado do mundo e encontrar fãs é sempre uma parte muito divertida da experiência.
WM: Vocês vão tocar no Hangar 110, que é uma casa de show muito importante pras bandas de rock brasileiras. Eu, pessoalmente, sempre senti que a música hardcore e a música punk ganham mais vida nesses espaços menores. Você sente o mesmo sobre os shows do Machine Girl?
MS: Sim, eu concordo. Eu acho que todos nós sentimos o mesmo: que os pequenos shows de punk mais íntimos geralmente são nossos favoritos e a energia é muito mais forte. Então é legal que essa vai ser a vibe amanhã. Os shows da Machine Girl são interessantes porque são algo entre um show hardcore e uma rave hardcore. Se as pessoas curtem isso aqui, então eu espero que amanhã seja assim e seja bem agitado.
WM: Vocês vão tocar em outros países e cidades na América Latina. Entre elas, Santiago, no Chile, que é a quarta cidade no mundo que mais ouve Machine Girl no Spotify. Você tem familiaridade com algum aspecto da cultura do Chile ou até mesmo do Brasil?
MS: Estou meio desatualizado e não tinha percebido que essa era uma das cidades que mais nos ouvia, o que é muito emocionante. Sobre a música brasileira moderna, eu não sou muito atualizada, mas muitas músicas da balada vêm do Brasil e entram nos Estados Unidos, como coisas de “baile funk” que eu ouço. Eu sigo muitos DJs no Instagram e eles aparecem nos meus reels [tocando] esse funk insano, super estourado, e os DJs detonam tudo fazendo remixes ao vivo, com os autofalantes fazendo a casa inteira tremer, junto com a câmera e as pessoas.
Eu ouvi uma compilação de álbuns de baile funk do ano passado, e às vezes quando eu estava tocando como DJ eu colocava algumas dessas faixas, mas a mixagem é tão doida e tão alta que assustava o público às vezes e era difícil de tocar. Mas isso também é o que torna divertido para mim tocar.
WM: Você acha que podemos esperar alguma influência brasileira em novas músicas do Machine Girl, eventualmente?
MS: Quem sabe depois dessa viagem.
WM: Você mencionou que a psicologia jungiana é um dos muitos temas que influenciaram o novo álbum MG Ultra. Quais são outras ideias ou conceitos que você tem estudado que influenciam sua música?
MS: Ainda pesquiso muito sobre psicologia e adoro coisas esotéricas, como ler as interpretações das pessoas sobre tarô. Comprei um livro recentemente sobre o mito medieval do Rei Arthur e o Cálice Sagrado que é uma dissecação psicológica da busca pelo Cálice Sagrado e a busca das pessoas por algum sentido na vida.
Também comprei recentemente um livro chamado O Livro dos Cinco Anéis, que é um livro escrito por um famoso samurai nos anos 1600. É um livro sobre o estudo das artes marciais, como a luta de espadas, basicamente, mas aplicando uma disciplina e o jeito que esse cara se prepara mentalmente e fisicamente para uma luta de espadas até a morte com alguém, como um duelo. Todo o processo de se preparar e como treinar e tal… A filosofia dele era que você podia aplicar isso para quase qualquer forma de arte ou habilidade que você queira perseguir na vida. É um livro simples, mas profundo.
WM: Queria falar um pouco sobre a capa do álbum. Para mim, ela evoca esse sentimento muito certeiro e moderno de uma sociedade que está morrendo por dentro, mas cada vez mais afundada no consumismo e performando uma vida inteira para as redes sociais. Do seu ponto de vista como artista, como isso funciona para você e para a Machine Girl na indústria da música? Você acha que a Machine Girl conseguiu construir uma comunidade segura online, onde você não tem que estar constantemente tentando fazer da sua música um produto?
MS: Sim, eu acho que nós fomos muito sortudos e organicamente construímos uma base de fãs, não através de marketing e coisas assim, mas apenas através de palavras orgânicas e pessoas criando suas próprias artes e vídeos e compartilhando a música entre si, o que eu acho que é o melhor jeito para música e arte para serem compartilhadas.
Eu evito, o máximo que posso, ficar muito focado nessa parte de marketing promocional. Quando isso acontece você imediatamente sente sua alma deixar seu corpo um pouco, e é tudo parece meio triste e falso e tal, mas eu acho que a Machine Girl fez um bom trabalho, principalmente não precisando fazer isso tanto, comparado com outros artistas.
E eu sou super grato pela comunidade que nós temos, porque no geral eu a descreveria como um ambiente seguro para os jovens se conectarem uns com os outros.
WM: Considerando tudo que você disse, você gostaria de ver o Machine Girl atingindo o mainstream em algum momento?
MS: Se acontecer, aconteceu. Não é exatamente um objetivo meu. Eu penso que se a Machine Girl se tornasse maior, a única razão pela qual isso me deixaria animado seria se isso fosse um choque cultural, algo bem disruptivo. Aí seria obviamente legal e emocionante. Eu não gostaria que a Machine Girl se desligasse e se tornasse outra banda. Eu gostaria de fazer um barulho que permeasse fora do nosso nicho musical. Nesse sentido seria legal, mas não é um objetivo.
Via: WikiMetal