Com lançamento marcado para o dia 06 de junho, o aguardado novo álbum do Volbeat, God of Angels Trust, promete marcar uma nova fase na trajetória da banda dinamarquesa. Em uma conversa com o Wikimetal, o baterista Jon Larsen compartilhou detalhes sobre os bastidores do processo criativo, revelando os desafios enfrentados em estúdio, as influências que ajudaram a moldar o novo som e a expectativa de retornar ao Brasil com a turnê do disco. A entrevista completa oferece uma visão única sobre a alma rítmica do Volbeat, e o que os fãs podem esperar dessa nova era. Confira:
Wikimetal: Quero te agradecer, Jon, por tirar um tempo para essa entrevista. E, bom, antes de começarmos… como você está e de onde está falando?
Jon Larsen: Estou bem, obrigado. Estou sentado no meu “quarto de gente grande” aqui em casa.
WM: Ah, o melhor lugar para se estar?
JL: É, é sim. É onde eu guardo alguns dos meus brinquedos e tranqueiras.
Gravando com energia e espontaneidade: bastidores da produção de God of Angels Trust
WM: O Volbeat está prestes a lançar um novo álbum chamado God of Angels Trust. E depois da saída do Rob Caggiano, vocês passaram a trabalhar como um trio. Vocês gravaram esse álbum em apenas cinco semanas, o que é bem rápido. Como foi a dinâmica entre você, o Kaspar e o Michael durante esse processo tão intenso? Teve espaço para improvisar na bateria? Como foi essa experiência pra você?
JL: Bom, pra ser honesto, foi meio que como sempre foi, sabe? Não teve tanta diferença assim. Dessa vez éramos só nós três, mas na verdade, no álbum anterior, Servant of the Mind, também trabalhamos como um trio, porque foi durante a pandemia. O Rob estava preso nos Estados Unidos e não pôde estar com a gente, então ficamos trocando arquivos de um lado pro outro. Então, nesse sentido, não foi algo tão diferente agora.
E, na verdade, esse álbum levou só umas duas semanas e meia pra ser gravado. Mas a gente passou alguns meses ensaiando intensamente antes de entrar no estúdio. Então, quando chegamos lá, já sabíamos mais ou menos o que fazer. Porque estúdio hoje em dia é bem caro. Não tem por que ficar sentado sem fazer nada. A gente gosta de trabalhar, então já entramos sabendo o que precisava ser feito.
Claro, sempre tem pequenos ajustes. Às vezes, tem uma parte que você ensaiou e achava incrível, aí alguém aperta um botão e fala: “Que diabos você tá fazendo?”. Aí você acaba mudando um detalhe ou outro. Mas, no geral, a gente sabe o que está fazendo. E quando tudo flui bem, a gente só continua e vai embora.
No que você ouve nesse álbum, muita coisa da bateria foi gravada em um único take. Na verdade, acho que quase todas as músicas foram em take único. Claro, hoje em dia existe o Pro Tools, tem toda essa tecnologia, então se o take geral está bom, mas tem uns oito compassos meio esquisitos, dá pra cortar e colar, ajustar ali. Mas a ideia era justamente manter essa espontaneidade, trazer uma pegada mais ao vivo pro som, que parecesse que estamos tocando ao vivo no estúdio, mesmo não estando, de fato, tocando juntos.
Queríamos algo mais cru, com essa vibe mais viva. Então falamos isso pro nosso produtor e ele topou na hora. Dissemos: “Se tiver alguma coisa, tipo uma batida na caixa que não sai exatamente igual às outras, mas ainda assim soa bem… deixa assim. Não precisa ficar editando demais.” Nada de robôs. Só vamos lá, tocamos e vemos o que acontece.
E tem outra coisa interessante: nosso produtor já tinha nos dito isso há anos. Ele falou que a gente rende melhor quando acerta tudo nos dois, três primeiros takes. Depois do terceiro, ele dizia: “Não adianta continuar, porque a energia de vocês já caiu, vocês começam a viajar e fazer outra coisa”. Então a ideia é essa: tentar acertar em três takes. Se rolar, ótimo, seguimos em frente. Se não, vamos fazer outra coisa.
Jon Larsen fala sobre sua abordagem simples e eficaz na bateria do Volbeat
WM: O Volbeat voltou a compor depois de um ano de pausa. Como foi esse recomeço pra você? Vocês voltaram com mais energia, novas ideias ou até uma abordagem diferente na sua forma de tocar bateria?
JL: Não, não foi uma abordagem diferente. Sabe, nunca foi sobre isso pra mim. O que eu faço é o seguinte: quando o Michael chega com uma ideia, com um riff ou qualquer coisa, eu ouço o que ele está tocando e aí coloco algo por cima disso. Às vezes ele já tem uma ideia na cabeça e diz: “Ah, faz algo assim”, e tenta me explicar o que ele quer. Aí eu tento tocar aquilo, e às vezes ele fala: “É, tá legal” ou então “Não, isso não funciona”. Mas, na maioria das vezes, eu simplesmente crio algo ali na hora, e se funcionar, ótimo.
Mas eu sempre presto atenção no que ele está tocando. Sempre foi assim. Nunca fui o tipo de baterista que precisa sair voando pelo kit o tempo todo, fazendo viradas chamativas e tudo mais. Nunca foi sobre isso pra mim. Tem caras que fazem isso, e fazem incrivelmente bem, mas não é o meu estilo. E, sinceramente, nem sei se esse tipo de coisa combinaria com o som que a gente faz. A ideia é mais manter tudo simples. Mas, ao mesmo tempo, tentar encontrar aquele groove, aquela pegada certa.
Jon Larsen fala sobre o som atual do Volbeat
WM: Na sua visão, o que esse novo álbum representa na história da banda? O que ele traz de novo para a identidade do Volbeat e para vocês, como músicos?
JL: Pra mim, é simplesmente um novo álbum. Sabe, soa como a gente, então deve ser a gente. Talvez, como eu disse antes, ele tenha um certo retorno às coisas que fazíamos lá no começo. Mas, ao mesmo tempo, tem um pouco de tudo que fizemos ao longo dos anos. Tem as músicas mais pesadas, centradas nos riffs. Tem aquelas mais aceleradas, com uma pegada meio punk. E ainda tem, se é que posso dizer isso… uma espécie de balada. Mas a gente já fez isso antes, sabe? Então, acho que o álbum representa simplesmente como soamos hoje.
As influências de Jon Larsen
WM: Como você mantém a criatividade? Você escuta música fora do rock e metal? Tem alguma influência inusitada no seu jeito de tocar bateria?
JL: Eu não escuto música nova. Não mesmo. Simplesmente porque não tem nada que realmente me interesse. A única coisa, e nem sei se ainda é nova, que eu meio que gosto é a Crypta. Acho que aquelas quatro garotas são realmente muito boas e estão fazendo um trabalho incrível. Mas, fora isso, eu fico ouvindo todas as coisas antigas que escuto desde que era criança mesmo. De Kiss aos Beatles, Rush, Iron Maiden, Adam and the Ants, Sex Pistols, Ramones, tudo isso.
WM: Então, nenhuma banda nova, tipo de 2000 pra cá ou dos anos 2010?
JL: Não muito. Pra ser honesto, eu realmente não faço ideia do que está rolando. E não é porque… O Michael, às vezes, ele e o Fleming, especialmente, são super ligados nessa parada toda de death metal, tanto da cena nova quanto da antiga. Eles ficam ouvindo direto. E eu fico lá pensando: “É, até que é legal, mas não preciso comprar [um álbum] porque provavelmente vou ouvir só uma vez.” E é isso. Claro, se alguém colocar uns sons antigos de Obituary ou Death, aí sim, é ótimo, eu escuto de boa. Mas toda essa cena nova? Pra ser honesto, não faço ideia do que está acontecendo.
O desafio de Jon Larsen em equilibrar técnica e energia
WM: Nesse álbum, teve alguma faixa em que a bateria foi um desafio pra você?
JL: Acho que a parte mais desafiadora desse álbum foi manter a intensidade e a energia na hora da gravação, sabe? Como eu disse antes, tem umas músicas mais aceleradas, então acho que manter esse nível alto de energia foi meio difícil.
Teve uma música, não lembro qual, em que o padrão de bateria que eu tinha pensado era um pouco diferente. Mas nos últimos ensaios antes de entrar no estúdio, percebi que não conseguiria acompanhar. Tive que mudar, meio que “fingir” de alguma forma.
Minha ideia original era tocar tipo o Marky Ramone fazia com os Ramones, tocando as colcheias no chimbal. Testei isso e funcionou bem no primeiro verso. Mas no refrão, que eu ainda tocava as colcheias, comecei a sentir que estava meio difícil, tive que “fingir” de novo. Então, nos versos, decidi não fazer as colcheias, passei a tocar as semínimas, e no refrão eu voltava pras colcheias.
Então, manter esse nível foi o maior desafio, na real. E também tocar junto com o Kaspar e o Michael, porque o Michael às vezes tem umas manhas na guitarra que me fazem pensar: “Ah, que legal! Posso colocar um toque de caixa aqui, ou um choque de prato ali, só pra dar uma incrementada e deixar o som maior.”
A evolução do rítmica do Volbeat
WM: Como você vê a sua evolução como baterista desde o começo da banda até este álbum?
JL: Não sei bem. Acho que, ao longo dos anos, nosso toque ficou um pouco mais “apertado” quando tocamos. Sabe, quando tocamos ao vivo agora, a gente foca mais nos tempos, tenta manter o ritmo certinho, por assim dizer. A gente não toca com metrônomo ao vivo, não, mas tem umas poucas músicas que usamos click para manter o tempo como está, porque, como qualquer banda, a gente geralmente toca um pouco mais rápido ao vivo. Mas, quando escuto umas gravações antigas, tipo de 10 anos atrás, de algumas músicas, fico pensando: “Como diabos a gente conseguia tocar tão rápido?”
Então, isso é o que a gente tenta focar mais hoje: manter o tempo certo. Tem gente que até reclama, fala “Ah, vocês estão tocando devagar agora”. Mas não é isso, é que a gente está mais focado em manter o tempo correto. Na última turnê que fizemos com o Fleming, ele tinha ensaiado bastante, mas ensaiou com as faixas do álbum. Nos primeiros shows que ele tocou com a gente, na música “Fallen” ele começou tocando muito rápido. A gente ficou tipo: “Caramba, isso é muito rápido!” Falamos com ele, “Fleming, isso tá rápido demais”. E ele disse: “Não, eu escutei o álbum.” Aí eu ouvi a versão do álbum e pensei: “Meu Deus, é rápido mesmo.” Então, na real, a gente toca mais devagar ao vivo do que eu achava.
A energia única do público brasileiro
WM: No ano passado, o Volbeat tocou aqui no Brasil, e foi um momento especial para muitos fãs. Teve algo na energia do público brasileiro que te chamou a atenção durante aquele show?
JL: Sim, a energia do público foi incrível, sabe? E, assim, eu não diria que estava nervoso, mas, ao mesmo tempo, a gente ia tocar para uma plateia formada basicamente por fãs fanáticos do Iron Maiden. No dia anterior ao primeiro show, eu estava numa área de fumantes ali fora do estádio, e fiquei observando o pessoal chegando. E, cara, não importava pra onde eu olhasse, era só camiseta do Iron Maiden. Só dava isso!
Normalmente, nos Estados Unidos ou na Europa, você vê uma mistura, uma camiseta do Metallica aqui, uma do Slayer ali, um ou outro com Kreator, Iron Maiden, enfim. Mas naquele dia, era só Maiden, eu não conseguia acreditar. E minha reação imediata foi: “Ih, ferrou… estamos encrencados. Eles vão odiar a gente!”
Mas, pra ser honesto, a reação do público foi maravilhosa. E eu até vi um cara usando uma camiseta do Volbeat! Pensei: “Ok, pelo menos tem um cara que sabe que a gente está aqui.” (risos) Mas, sério, foram dois shows incríveis. E tocar num estádio gigantesco no Brasil foi algo realmente especial.
O desejo de voltar à América do Sul
WM: O Volbeat anunciou uma turnê pela Europa e América do Norte. Vocês têm planos de voltar ao Brasil? Já existem planos para datas na América do Sul?
JL: Eu espero que sim. Sinceramente. No momento, só sabemos o que vamos fazer este ano. Tenho certeza de que já estão sendo feitos planos para 2026, mas até agora não ouvimos nada a respeito. Estamos com uma agenda de turnê de junho até novembro, passando pelo Canadá, Estados Unidos e Europa. Depois disso, vamos ver o que acontece. Mas adoraríamos voltar, na verdade, não só ao Brasil, mas à América do Sul como um todo, e fazer nossos próprios shows. Porque, até agora, todas as vezes que estivemos na América do Sul foram em festivais ou, como no ano passado, nos dois shows com o Iron Maiden. Seria muito bom voltar e fazer algo só nosso na América do Sul. Com certeza.
WM: Quero te agradecer, Jon, por esta entrevista e por dedicar um tempo para conversar com a gente. Agradecemos muito por isso. E, antes de encerrar, você gostaria de deixar uma mensagem final para os fãs brasileiros?
JL: Ah, o que posso dizer? Da última vez que fomos ao Brasil, tivemos um momento incrível, conhecemos pessoas fantásticas, passamos um tempo com pessoas incríveis. Muito obrigado a todos que estiveram presentes nos dois shows que fizemos com o Iron Maiden. Espero que vocês gostem do novo álbum e que a gente se veja em breve.
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Via: Wiki Metal