Igor Cavalera explica em podcast alemão os motivos que levaram o uso de imagens satânicas no início do metal extremo no Brasil. A questão estava ligada diretamente em “atacar a igreja” e um “ato de rebelião”.
Durante a conversa com o White Centipede Noise no WCN Studios, o baterista falou sobre a forte presença da temática demoníaca nas primeiras bandas da cena na década de 1980, como o próprio Sepultura, o Sarcófago, Vulcano e Holocausto. O tema entra em contraste com a predominância da igreja católica no país.
Segundo o músico, o uso dessas referências não eram uma adoração ao diabo, mas sim, ir contra a igreja.
“Para nós, explicar a primeira onda de black metal que tivemos no Brasil não era realmente sobre adorar Satanás, mas sim sobre atacar a igreja, o que é uma grande diferença. Para nós, era muito mais político”,( via Blabbermouth) explicou Igor.
Ele prosseguiu detalhando a visão crítica que as bandas tinham do papel da instituição religiosa na sociedade.
“Porque a igreja está controlando tudo na América do Sul, e eles estão envolvidos na política, e como todos sabemos, eles são a coisa mais maligna. Eles entraram e realmente estupraram a terra com a colonização e tudo mais. Então, para nós, ir contra a igreja, foi um ato de rebelião. E para nós também fazia mais sentido atacar isso do que apenas atacar o governo em geral, porque eles são a mesma coisa na nossa visão. Então, quando você teve o Sex Pistols indo contra a rainha, para nós, nossa forma de agressão era tipo, ‘Não, vamos destruir a igreja’. Porque eles estão todos conectados.”
Assista à participação de Igor Cavalera no podcast White Centipede Noise:
Igor Cavalera fala sobre sua percepção
Apesar de suas preferências pessoais em temas sombrios, Cavalera afirma que a banda não era formada por “adoradores de Satanás”. Em sua visão, tanto o bem quanto o mal, conhecidos popularmente, foram invenções da própria igreja.
“Então, para nós, adorar isso, era quase tipo, ‘Ah, como é que vocês não aceitam Jesus, mas aceitam aquele, que é meio que — eles são o yin-yang.’”
Igor também conectou a agressividade e temática com a sonoridade extrema que caracterizou o metal brasileiro da época: “Então foi daí que surgiu o movimento. Era sobre essa agressividade. E então, claro, musicalmente, era uma forma extrema de mostrar como queríamos nos rebelar.”
Ele contrastou a abordagem das bandas brasileiras com o metal europeu e americano, que frequentemente abordava temas como dragões e castelos, considerados distantes da realidade brasileira.
“Eles falavam sobre dragões e destruição de castelos. E nós pensávamos: ‘Essa não é a nossa realidade’. Então, acho que foi aí que começou.”
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Via: WikiMetal