Em Touching The Terror (2025), N.W.77 traz elementos essenciais que toda banda de metal extremo deveria adotar. Riffs de guitarra velozes, vocais potentes, uma bateria marcante e linhas de baixo responsáveis por unir tudo isso de maneira a ser elogiada.
A banda de crossover thrash hardcore está na ativa há 15 anos e foi fundada pelo baixista e vocalista Marcel Ianuck, que juntamente com PC Montalvão (guitarra), Márcio Montalvão (guitarra), Paulo Vinícius (bateria) e Rodrigo Pinto (bateria) lançaram um trabalho que mostra que o metal brasileiro segue vivo e muito bem.
Com influência de grupos como Suicidal Tendencies, S.O.D., Ratos de Porão, Lobotomia e Anthrax, a N.W.77 traz excelentes detalhes das banda citadas, como a velocidade das músicas e os vocais rasgados, de maneira crua e que instiga o ouvinte a querer mais.
Logo de início, o EP traz a faixa “Touch The Terror”, que já abre o trabalho de maneira explosiva. Não é um registro longo – muito pelo contrário. Com 4 músicas e menos de 10 minutos de duração, a banda foi responsável por entregar um um EP muito bem amarrado.
Algo a se destacar na segunda música, “Dogday Everyday”, são as linhas de baixo, mas assim como em todas as outras, a habilidade vocal de Ianuck impressiona, de maneira que ele transmite uma força enorme.
A N.W.77 não deixa a bola cair em momento algum, mantendo a régua alta em todas as faixas e mostrando a ferocidade do metal nacional. “We Told You So” é exemplo disso, com um bom solo de guitarra e coros que tornam a música ainda mais presente.
Para finalizar, “Lake Paranoia” amarra todo o EP, trazendo aqui, a melhor música do trabalho. A sensação, ao finalizar a música, é a de que poderia haver mais canções, uma vontade de ouvir mais músicas da banda, que trouxe em Touching The Terror um excelente registro, que une habilidade, velocidade e precisão.
Tive a oportunidade de bater um papo com o fundador da N.W.77, Marcel Ianuck. Confira a entrevista na íntegra!
Wikimetal: Touching The Terror foi criado antes e depois da pandemia. Como você acredita que o período de lockdown impactou a elaboração do EP?
Marcel Ianuck: Sim! Impactou bastante! Foi um período muito difícil psicologicamente para todo mundo, com tantas coisas horríveis acontecendo. E apesar da parte instrumental estar toda pronta antes da pandemia, as letras e vocais só foram feitos em 2024. Então, mesmo mantendo o nosso lado mais irreverente, as letras foram muito impactadas. A música “We Told You So”, por exemplo, é bem direta sobre o horror de ter negacionistas no comando durante um período tão crítico para a humanidade. Então, a parte lírica foi totalmente impactada pelo lockdown.
WM: Eu queria falar um pouco sobre o título do EP. O que ele significa? O que vocês quiseram transmitir enquanto mensagem com ele?
MI: Nós sempre tivemos esse lado irreverente e irônico nos trabalhos anteriores. O título do EP faz referência a música “Touch The Terror” que significa literalmente tocar o terror, mesmo sabendo que essa tradução maluca só vai fazer sentido no Brasil. E a letra tem a intenção de valorizar o underground, os shows, as bandas, as pessoas que fazem tudo acontecer, seja mídia independente, casas de shows, produtores e entusiastas em geral. Ficamos tanto tempo trancados e longe de tudo, que voltar aos shows e a conviver com todo mundo foi muito emocionante. O primeiro show de retorno foi no festival Headbangers Attack aqui em Brasília em maio de 2023 e eu estava doente com febre e tudo mais, felizmente não era Covid novamente. Mas quando, depois de 4 anos, começamos a tocar, o pessoal a “tocar o terror” no mosh, não senti mais nada e foi um dia inesquecível. O título do EP e da música significa isso, estamos aqui para continuar tocando o terror até onde aguentamos.
WM: Eu gostei bastante das faixas lançadas na versão digital e sei que vocês pretendem lançar em mídia física com mais 2 faixas. O que pode me adiantar a respeito delas?
MI: Vão ser 2 faixas bônus no CD que já está na fábrica. São dois bootlegs muito especiais para nossos bateristas. Nós temos dois, desculpa aí galera das outras bandas! O Rodrigo Pinto mora em Nova York e já gravava todos o material de estúdio, inclusive as 4 faixas do EP Touching The Terror, mas a distância obviamente impactava muito nos shows e em 2018 resolvemos incluir o Paulo Vinícius (ex-Macakongs 2099 e Narcoze) na banda para fazer os shows. Rapidamente virou membro da nossa família nuclear e então deixou de ser um baterista substituto. Dito tudo isso, uma das faixas vai ser uma versão bootleg da música “Dis Is Fear”, do split K7 Peste Nuclear, onde tanto Rodrigo quanto Paulo Vinícius tocaram juntos simultaneamente. Max Cavalera vai adorar! E a outra faixa bônus é um ensaio gravado no estúdio Mercearia, com o Paulo Vinícius na bateria, tocando a música “Bacchanalia Open Air”, do disco Nuclear Awake (2015).
Estamos negociando também o lançamento de outros formatos físicos fora do país. Então provavelmente teremos algumas edições limitadas em K7 e Vinil. Veremos.
WM: A N.W.77 está na ativa desde 2010, ou seja, quinze anos de estrada, com muitas coisas mudando e evoluindo. Como você sente que encontra-se a cena de crossover thrash hardcore hoje em dia?
MI: Eu acho que tá muito bacana! Aqui no Distrito Federal tem rolado muitos shows com bandas de hardcore e thrash juntas, até outros estilos como death metal e doom. E muita garotada mais nova, o que é muito importante para renovar a cena. Então estamos sempre tocando com bandas legais como Alcoholic Vortex, Transtorno Nuclear, Axion, Terror Revolucionário, entre outras. Também quero destacar a banda Kidsgrace, hardcore com influências diversas de metal e outros estilos, compostas por mulheres, cis e trans, mostrando que a cena tem se mostrado aberta a diversidade e acolhimento de causas importantes. E também tocamos com bandas de fora do DF que misturam esses estilos como Basttardz, O Cão, D.E.R. e o próprio Black Pantera. Então diria que, apesar de sempre ter pontos a melhorar, a cena do crossover thrash e hardcore punk vai bem, obrigado!
WM: Em 2017 vocês foram incluídos na coletânea digital The Harder The Better, Vol. 15. À época, o que isso significou e como impactou a carreira do N.W.77?
MI: Foi muito legal porque fizemos vários contatos com bandas e selos de fora do Brasil, além de apreciadores do estilo que chegaram a comprar camisas da banda, o nosso disco virtual no Bandcamp e até mesmo o disco físico pelo correio. Outro lançamento gringo que abriu portas foi a K7 Split Play Fast Ride Easy que foi lançado em 2021 por dois selos, um nos Estados Unidos e outro na Alemanha. Além disso, foi nosso único lançamento no conturbado período de pandemia. Receber um feedback positivo de pessoas e zines de outras partes do mundo foi importante para nos dar ânimo para seguir.
WM: O que o futuro aguarda para a banda?
MI: Gravamos uma versão para um novo tributo ao Ratos de Porão, “Ratomaniax 2”, que deve sair ainda no primeiro semestre. Foi muito legal porque foi a primeira gravação “pra valer” do Paulo Vinícius na bateria e a música ficou bem a nossa cara. Além de ser uma honra já que o Ratos é uma das nossas bandas favoritas da vida. E já temos vários esqueletos de músicas para, quem sabe em 2026, lançarmos um novo disco cheio, que já está na hora.
Em termos de show, temos alguns shows marcados pelo Distrito Federal e uma mini tour no Nordeste agendada em Agosto, voltando a tocar em Natal, Recife e tocando pela primeira vez em João Pessoa. E, claro, a agenda segue aberta pois pretendemos divulgar o novo EP e tocar o terror pelo país todo.
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Via: WikiMetal