Nesta sexta-feira, dia 25, Curitiba viveu uma de suas noites mais quentes dos últimos tempos. Embora fossem 17 graus na agradável noite curitibana, a temperatura do CWB Hall não condizia com o clima do lado de fora. Krisiun, Ratos de Porão e os britânicos do Napalm Death fizeram o interior da casa de shows virar uma verdadeira panela de pressão diante de tanta intensidade e brutalidade que as bandas apresentaram.
A noite começou com duas ótimas bandas de abertura. Em ambas há uma coincidência: o poderio feminino nos vocais. A banda curitibana Ethel Hunter apresentou um death de respeito, reto e direto. Com diversos blasts na bateria, riffs rápidos e um baixo bem timbrado e slapado, a banda se mostrou bem coesa com sua proposta. Um belo destaque para a vocalista Larissa Pires, que tem um gutural tão potente e estável que deixaria até Alissa White-Gluz com inveja.
A segunda banda da noite, os paulistas de São José dos Campos, Manger Cadavre?, veio com o som um pouco mais trabalhado. Com riffs bem ao estilo thrashzeira e com uma performance de palco mais agitada da vocalista Nata Nachthexen, a banda conseguiu conduzir o primeiro mosh da noite. Com um final forte e em tom político, a banda já demonstrava para o próximo convidado da noite de que os reaças não estariam entre nós.
Ratos de Porão
Com um leve atraso, chega uma das bandas mais politicamente importantes do nosso país, o Ratos de Porão. Com uma certa dificuldade, João Gordo sobe ao palco e entrega uma variedade de gritos e berros de qualidade (mesmo alegando estar sem voz). O baterista Boka conduz as batidas com muita técnica e velocidade. Jão portando sua guitarra de modelo Les Paul tem riffs matadores e com um timbre bem encorpado. Já o baixista Juninho é o responsável pela ótima performance de palco, com os mais variados pulos e muito vigor. As cenas onde Jão e Juninho duelam com seus instrumentos com João no meio são icônicas.
João ainda teve um problema com o retorno de seu microfone, o que fez com que Jão perdesse seu microfone para os backs para que o vocalista pudesse continuar com o show. Apesar do problema (e muitos xingamentos por parte do João), o público correspondeu à altura, fazendo o mosh comer solto da primeira até a última música. Músicas como “Crianças sem Futuro”, “Beber até Morrer” e “Descanse em Paz” fazem o deleite do público que cantava alto. Mas foi em “Crucificados pelo Sistema” que movimentou o maior mosh da noite, onde 1/3 do público presente se encontrava circulando e se batendo na pista do CWB Hall.
Krisiun
Após a brutalidade do crossover/punk do Ratos, o palco deu lugar ao poderoso trio gaúcho de Death Metal Krisiun. Tudo na banda é extremo e maximizado, o backdrop é enorme, o kit da bateria Max Kolesne é montado em um ângulo mais alto, a presença onipotente dos gigantes Moyses Kolesne (guitarra) e de Alex Camargo (baixo e voz) os tornam colossais nas extremidades do palco. A banda entrega o que há de mais extremo do metal nacional. Blasts e segmentos abruptos na bateria, riffs intensos e dissonantes, além de um vocal escabroso.
A musicalidade acelerada, cascuda e vertiginosa da banda seriam as receitas perfeitas para causar no público o impulso para grandes moshs, porém o calor e o sufocamento na casa era tão insalubre que todas as rodas que se iniciavam em cada abertura de uma nova música não se sustentam por muito tempo, restando ao público somente o balançar de suas cabeças para demonstrar sua satisfação pelo som da banda.
A sensação de estar em um forno era tanta que até quem curtia o show parado se encontrava pingando de suor. Isso acabou deixando o público mais acanhado, mas nada os impossibilitaram de gritar o nome da banda a cada conclusão de suas faixas. Músicas como “Combustion Inferno”, “Serpent Messiah” e a mais antiga “Hatred Inherit” são belos exemplos da brutalidade da banda, mas é nas faixas “Apocalyptic Victory” e principalmente em “Blood of Lions” que o público cantou mais alto.
Napalm Death
Após a violência musical executada pelos gaúchos, era hora de aguardar pelos donos da festa, o Napalm Death. Nesse meio tempo, boa parte do público foi buscar um pouco de ar fresco no lado de fora da casa, mas não demoraram a regressar para não perder o início dos expoentes do grindcore mundial. Porém, um atraso na montagem do palco por conta de algum problema técnico, acabou afastando a pontualidade britânica e com um atraso de um pouco mais de uma hora acabou irritando o público presente, mas logo quando a paciência parecia ter se esgotado, o problema logo se solucionou. E em uma agilidade absurda para adentrar ao palco, Napalm Death finalmente estava pronto para terminar de distribuir velocidade e brutalidade a um público ainda sedento pela mistura.
A banda composta por Danny Herrera na bateria, o guitarrista de turnê John Cooke (substituindo o guitarrista Mitch Harris), o vocalista Barney Greenway e o lendário baixista Shane Embury, são igualmente ferozes e impressionantes em estúdio como no ao vivo. Danny é perfeito em suas execuções. John representa com maestria o guitarrista oficial da banda, com riffs rápidos e backing vocals rasgados. Shane é um espetáculo à parte, sua forma única de tocar baixo é estonteante, com muita velocidade e movimentação precisa.
Já Barney é extremamente energético e tem uma presença de palco descomunal, sempre agitado, pulando e balançando sua cabeça sempre que dispara seus berros ensurdecedores. Mas assim como é impetuoso nas execuções de suas músicas, nos intervalos ele é muito simpático e amoroso com o público, sempre agradecendo e parando até para dar autógrafos em meio ao show, além de ter discursos sociais fortes e pertinentes.
Com uma setlist completamente recheada de peso e músicas curtas, “Next On The List”, “Rise Above” e “The Truth Be Known” tiveram moshs de respeito, com bastante pancadaria. Tivemos clássicos como “Scum”, “Suffer The Children”, “M.A.D.”, e o cover de Dead Kennedys “Nazi Punks Fuck Off”. Além de, claro, as breviloquentes “Dead” e “You Suffer”.
Após o fim da poderosa apresentação dos britânicos, a panela de pressão que se via no CWB Hall pode finalmente desafogar, com uma evacuação em tempo recorde, a rua em frente a casa foi tomada por gente vestida de preta afim de respirar um bom ar e compartilhar suas impressões uma com as outras sobre a estupenda noite de muito som extremo que vivenciaram nesta sexta-feira. Com um lineup de alta patente, os curitibanos presentes certamente irão se lembrar dessa épica noite com muito apreço, apesar dos pesares.
Setlist Ratos de Porão:
- Alerta Antifascista
- Aglomeração
- Amazônia nunca mais
- Farsa nacionalista
- Ignorância
- Lei do silêncio
- Morte ao rei
- Satanic Bullshit
- Bad Trip
- Morrer
- Mad Society
- Crianças sem futuro
- Crucificados pelo sistema
- Descanse em paz
- V.C.D.M.S.A. (Vivendo cada dia mais sujo e agressivo)
- Guerrear
- Políticos em nome do povo…
- Caos
- Realidades da guerra
- Igreja universal
- Herança
- Aids, Pop, Repressão
- Beber até morrer
- Crocodila
- Crise geral
Setlist Krisiun:
- Kings of Killing
- Combustion Inferno
- Ravager
- Scourge of the Enthroned
- Necronomical
- Apocalyptic Victory
- Blood of Lions
- Serpent Messiah
- Hatred Inherit
- Black Force Domain
Setlist Napalm Death:
- From Enslavement to Obliteration
- Taste the Poison
- Next on the List
- Contagion
- Rise Above
- Resentment Always Simmers
- That Curse of Being in Thrall
- Amoral
- If the Truth Be Known
- Backlash Just Because
- Fuck the Factoid
- Suffer the Children
- Mass Appeal Madness
- Scum
- M.A.D.
- Success?
- You Suffer
- The Code Is Red… Long Live the Code
- Dead
- Nazi Punks Fuck Off (Dead Kennedys cover)
- Instinct of Survival
- Contemptuous
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Via: WikiMetal